Salada de Fruko

Menino-prodígio da Discos Fuentes, Fruko é responsável por muito do êxito da gravadora colombiana e pela concepção de uma cena de salsa no país. O combo Fruko y su Tesos representa a principal frente de sua farta produção, mas ele liderou também outras três bandas que gravaram incansavelmente a partir dos anos 70: The Latin Brothers, Wganda Kenya e Afrosound – a primeira mais fiel à receita da salsa; as outras duas com proposta híbrida e original, que refoga a cumbia sob o tempero das influências da piscodelia, de ritmos africanos, do funk estadunidense e da música andina em fogo altíssimo.

Nascido Junior Ernesto Estrada em Medellín, em 1951, Fruko ganhou esse apelido por conta de sua aparência física similar com a de um personagem que estampava as embalagens da marca de mesmo nome de um suco de tomates popular na Colômbia. Teria sido o cantor e acordeonista Lizandro Meza que teria cravado a alcunha ao ver o tal boneco desdentado em um outdoor. Estrada se beneficiou da brincadeira já que “sauce” (molho, em inglês) soa foneticamente como “salsa” em espanhol e um dos jingles da marca trazia o slogan “Fruko, o segredo do sabor” – tudo muito conveniente para quem é o principal responsável pela criação da receita da salsa colombiana.

Moleque briguento e não muito chegado aos estudos, foi parar na Discos Fuentes aos 12 anos levado por tios que trabalhavam na companhia como técnicos de som. Era 1963. Pegou rápido as manhas das gravações e mixagens e a sagacidade como observador dos músicos com quem teve contato aguçou também uma desenvoltura precoce em vários instrumentos. No ano seguinte, foi recrutado para assumir os timbales do renomado grupo Los Corraleros de Majagual. Aos 18 anos, em turnê com a banda em Nova Iorque, conheceu a música de mestres da cena latina na cidade como Eddie Palmieiri, Pete Rodriguez, Ray Barreto, Ricardo Ray e Willie Colón. Boom!

De volta à Colômbia, recebeu carta branca dos chefões da Fuentes para criar um projeto de salsa e, em 1970, já lançou seu primeiro álbum, “Tesura”. Fruko não só pegou emprestada a influência de Willie Colón para conceber sua música como também se inspirou no estilo gangsta do contemporâneo nova-iorquino para criar uma identidade visual, digamos, excêntrica nas capas de seus discos. Em “Tesura”, por exemplo, ele aparece mal encarado no estilo leão de chácara junto ao vocalista Humberto “Huango” Muriel González e um cão de guarda com posturas e fisionomias de poucos amigos.

Outro ícone gráfico dessa vibe é a capa do seu segundo LP “A La Memoria Del Muerto” (1972), na qual aparece com uma controversa seringa na veia em um cemitério. Na contracapa, Fruko já é apresentado como “rei da salsa na Colômbia”. Uau. E era só o começo.

Produtor, principal compositor e multi-instrumentista (toca piano, baixo, guitarra e timbales), o artista recrutou dezenas de músicos para as bandas que criou e os vocalistas com quem firmou parceria foram especialmente importantes para o seu sucesso. Os gogós privilegiados de cantores como Joe Arroyo, Wilson Saoko, Wilson Manyoama, Piper ‘Pimenta’ Diaz e o já citado ‘Huango’ foram peças fundamentais no molho salseiro de Fruko.


É impressionante a produção que segue sob a liderança do músico ao longo dos anos 70. O Afrosound lança seu primeiro disco em 1973 e gravaria outros quatro até 1979; o Wganda Kenya debutaria em 1976 e lançaria mais três discos na década; The Latin Brothers: sete álbuns no período 74 – 79; com Fruko y sus Tesos, totaliza 13 discos. Ou seja: são 29 álbuns entre 1970 e 1979 – sem contar os singles lançados apenas em compacto.

Frukão não brincava em serviço e segue na ativa: gravou mais uma porrada de discos ao longo das décadas seguintes e fez turnê pela Europa em outubro deste ano. Apesar de um movimento relativamente recente de algumas reedições de seus álbuns e inclusão de faixas suas em compilações de música colombiana pelos selos europeus Soundway Records (Reino Unido) e Vampisoul (Espanha), sua produção ainda é restrita a um público seleto fora de seu país de origem. Esse texto, por exemplo, se abastece muito mais de informações encontradas nos encartes destas coletâneas lançadas a partir dos anos 2000 do que do pouco conteúdo encontrado na internet.

Confira nossa playlist com dez faixas selecionadas do creme de seu repertório mais inspirado e fique de olho em nossa agenda da festa Entrópica — onde Fruko é sempre presença garantida! Salve!

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