Lóki é quem me diz
“Lóki?”, o primeiro disco solo de Arnaldo Baptista, é praticamente um diário musicado que expõe as perturbações internas do compositor após sua saída dos Mutantes e o complicado fim de relacionamento com Rita Lee. A missão do trio O Terno é coisa de louco: adaptar seu repertório no terceiro show do 74 Rotações. Com dois discos gravados (“66”, de 2012, e “O Terno”, de 2014), a banda não precisou de muito tempo para cavar seu espaço com um som que combina de forma autoral a influência do rock, elementos da música brasileira e um lirismo próprio. Os três integrantes — o vocalista e guitarrista Tim Bernardes, o baterista Victor Chaves e o baixista Guilherme D’Almeida — conversaram com a Radiola Urbana sobre “Lóki?”. Leia!
Quais sãos as impressões de vocês sobre “Lóki?”?
Tim – Eu acho emocionante. Com uns 15 anos, eu fui ler “A Divina Comédia dos Mutantes” (do Carlos Calado) e fiquei viciado nesse livro. Baixei a discografia da banda, fiquei que nem louco relendo e ouvindo. Mas o “Lóki?” eu não baixei. Fui procurar depois na internet e fiquei muito emocionado quando eu ouvi porque é como se fosse uma outra parte da história: tem um filme, mas tem um filme paralelo sobre aquilo que aconteceu depois. É um disco muito carregado de energia, bem carne viva.
Guilherme – Esse disco comenta coisas que aconteceram e mostra um lado do Arnaldo no piano, que já aparecia no Mutantes… É um jeito diferente de fazer rock and roll, sem guitarra.
Victor – Ele é bem profundo, intenso. Ele é bem virtuoso no piano e canta o que estava dentro dele, jogando pra fora. Por isso que emociona, é uma coisa viva e dolorida.
Mutantes é uma referência para O Terno?
Tim – Talvez seja a nossa maior. Nessa época que eu descobri o livro, eu pirei e comecei a fazer música. Quando eu me formei na faculdade de música, meu TCC foi sobre Mutantes. O Sérgio Dias é o guitarrista que eu mais gosto. É minha banda favorita, mais que Beatles.
Qual vai ser o caminho do show? Como vocês vão adaptar a linguagem do disco para uma linguagem de trio?
Tim – Eu acho que a gente precisa encontrar os jeitos para passar a emoção da letra sem pesar no brega, sem ficar muito melodramático. O Arnaldo cantando ali é ele falando da própria vida. A gente tocando isso pode ficar esquisito, soar brega. Temos que encontrar os jeitos interessantes para que a música empurre os arranjos e a gente encontre uma nova cara. Porque se a gente tentar fazer como é ali… Sempre chamam a gente para fazer versões, é uma coisa que a gente gosta muito e tem tido cada vez mais facilidade. Mas o “Lóki?” é muito mais difícil do que qualquer outra versão que a gente já fez. A gente respeita muito. Dá um medo de destruir mas também não dá pra fazer igual, a gente ainda vai descobrir qual é o melhor esquema.
Guilherme – Acho que é fugir do original e tentar passar a intenção da música. Acho que vai acabar acontecendo outras formações dentro do trio: usar um órgão, um piano.
Victor – No nosso segundo disco, a gente já experimentou essas novas formações, tem músicas que não tem guitarra… A gente vai tentar entender como vai soar tudo.
Que outras versões vocês andaram fazendo?
Victor – Recentemente, a gente tocou em um projeto que era em homenagem ao Chico Buarque. A gente fez duas versões: “A Banda” e “O Brejo da Cruz”. A gente também fez versões do Clube da Esquina, do “Trem Azul”.
Tim – Aí por livre e espontânea vontade, porque a gente quis. Entrava no repertório do shows umas versões diferentonas. O primeiro disco tem versões de músicas do meu pai (Maurício Pereira), então já era pirar em arranjos de músicas que não são nossas.
Victor – A gente fez também 8 versões pra músicas do Raul Seixas, que a gente vai tocar de novo em BH.
Tim – Também chamaram a gente para um “Som Brasil” sobre a Tropicália: fizemos “Aquele Abraço”, “São São Paulo, Meu Amor” e “Soy Loco Por Ti América”. São hits, então a gente tinha que transformar de outro jeito. É legal virar o negócio de ponta cabeça. Eu gravei e produzi também um disco da Andreia Dias que é só lado B da Rita Lee dos anos 60 e 70. São 10 versões de músicas dessa época. Eu mudei os arranjos, gravei todos os instrumentos aqui em casa e ela cantou depois. Ela quer lançar em janeiro, mas acho que a gente vai segurar um pouco. Tem uma ou outra mais conhecida, mas a maioria é do Cilibrinas do Éden (banda que Rita formou com Lucinha Turnbull, em 1973), “Build Up” (1970) e “Hoje é o Primeiro Dia do Resto das Sua Vida” (1972).
(Por Ramiro Zwetsch)
(Foto: Zé Gabriel)
74 Rotações
De 18 a 21 de dezembro
18/12 – Emicida interpreta “Cartola” (Cartola), às 21h
19/12 – Luciana Alves e Marco Pereira Trio interpretam “Elis & Tom” (Elis Regina e Tom Jobim), às 21h
20/12 – O Terno interpreta “Lóki?” (Arnaldo Baptista), às 21h
21/12 – Los Sebosos Postizos interpreta “Tábua de Esmeralda” (Jorge Ben), às 18h
Ingressos: R$ 40 (inteira), R$ 20 (meia), R$ 8 (comerciário) / a partir do dia 09-12, às 18h (online) e do dia 10-12, às 17h30 (nas bilheterias da rede Sesc).
Sesc Santana – Av. Luiz Dumont Villares, 579, (11) 2971-8700
www.sescsp.org.br/sesc