Beleza arrancada
Saiu um dos discos brasileiros mais aguardados pela Radiola Urbana em 2014: “Encarnado”, de Juçara Marçal, está na espreita desde à meia-noite de hoje e sua aparição sorrateira em plena madrugada de segunda para terça tem muito a ver com seu assunto principal — a morte, brrrrrr. Uma audição matinal ainda é pouco para traçar impressões mais profundas sobre o trabalho. É possível, no entanto, alertar o ouvinte que as referências anteriores que ele eventualmente possa ter da cantora — 4 discos com o quarteto vocal Vésper, 2 discos com o grupo A Barca, outros 2 com o Metá Metá, participações em shows e discos do Criolo, do Rodrigo Campos e outros — não são indicativos do que se ouve no trabalho. Não tem groove (baixo e bateria, por exemplo, nem dão as caras); quase não tem samba; o disco sequer se enquadra em um gênero musical; e a voz não tem aquela função que lhe é habitual em discos de cantoras, de ser a cereja do bolo, de ser o elemento protagonista em todo um arranjo que lhe exalta a beleza do timbre ou sua extensão vocal ou qualquer outro atributo de diva. Juçara arranca a beleza da sua interpretação na ferrugem das cordas vocais e essa ousadia encontra a sarjeta perfeita no atrito entre as guitarras de Kiko Dinucci e Rodrigo Campos. “Encarnado” é um assombro. Tem coragem? www.jucaramarcal.com . (RZ)
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